Embora se limite ao campo pessoal, isto é, exista apenas para mim e não se manifeste nela, há algo de tremendamente trágico na minha presente fase e que marca presença desde o início em qualquer período criativo: a consciência de que terá um fim. Comparado com isso, o facto de os demais aspetos da vida não me deixarem nem tempo nem limpeza de consciência suficientes para me dedicar na força devida aos meus projetos, nada é. No entanto, não se vislumbram ainda sinais de fim. Aliás, não existe sequer manifestação suficiente ao ponto de se auto-nomear, como, por exemplo, o Arrepio Cardíaco se destacou e apelidou a fase anterior. Por outras palavras, estou ainda na subida da montanha, pois todos os dias, nas mais diversas ocasiões me surgem ideias. Estas tanto são variações das já criadas, como novos padrões de pixelejos (que eu raramente me lembro de anotar e depois caiem no esquecimento!) ou propostas concebidas do zero, das quais boa parte é segundos depois deitada no caixote das ideias a destruir. Assim, o perigo agora não é o fim, mas antes a desmultiplicação de projetos que, se atingir um ponto insustentável, poderá comprometer tudo. Um pouco como um barco, quando carrega demasiado é o barco inteiro que vai ao fundo e não apenas o objeto que ultrapassou a carga suportável. No fundo, uma outra forma de fim, mas da qual eu não sei ainda se é possível renascer ou, seguindo a metáfora usada, que o barco, uma vez à superfície, possa voltar a navegar. Contudo, não se trata da forma que experienciei com o Arrepio Cardíaco em que se tratou, não dum afundar do barco, mas antes do mesmo acabar à deriva por falta de combustível e eu voltar a terra a nado, digamos.